Brasil

Pesquisa da UFG avalia técnica para tratar perda de visão em adultos

Cientista usa células-tronco no tratamento

A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é a causa mais comum de perda de visão entre pessoas com mais de 50 anos. O mercado farmacológico tem à disposição tratamentos para reduzir o progresso da doença e cirurgias que são eficazes em alguns casos. Para inovar, a professora da Faculdade de Farmácia (FF) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Marize Valadares, propôs a utilização de células-tronco dentárias para o tratamento da doença.

A doença tem como principais fatores o envelhecimento do epitélio pigmentar da retina – células que nutrem os fotorreceptores – expostos à luz solar. A professora Marize Valadares explica que uma das causas é a exposição dos olhos ao sol, que gera inflamação, e que ocasiona a morte de células oculares. Com a morte do epitélio pigmentar, os fotorreceptores – células responsáveis por captar a luz e transmitir um impulso nervoso ao cérebro para reconhecer as imagens – também morrem. A cada novo ciclo de exposição sem proteção, processo inflamatório e morte celular, o indivíduo perde uma parcela da visão de forma progressiva.

O órgão dentário é rico em diversos tipos celulares e em diferentes maturações, as mais jovens são as células-tronco, afirma Marize. “As células-tronco presentes no dente podem ser modificadas para se tornarem semelhantes aos tecidos de outras partes do corpo, incluindo do tecido pigmentar da retina”, explica. A professora conta que a escolha da fonte das células se deu principalmente pela facilidade na extração e pela inexistência de questões éticas relacionadas ao dente, em relação às células tronco embrionárias.

A professora explica que a utilização de células-tronco, células jovens com alto poder de regeneração, para o tratamento da degeneração macular relacionada à idade não é novidade. A inovação da pesquisa realizada na UFG é a origem das células utilizadas para a terapia celular. “Este projeto especificamente é o estágio mais inicial para que consigamos chegar na possibilidade de ter um implante de células diferenciadas a partir de células tronco dentárias em paciente”, afirma.

Nos Estados Unidos e Japão, métodos inovadores, como o proposto por Marize, já se encontram em fase clínica. A professora explica que apesar do estágio avançado do estudo, as células utilizadas por eles são de outras origens, em especial as células-tronco pluripotente induzida (iPSC) reprogramadas sinteticamente, já a fonte de célula que estudamos (dentária) seria descartada”, afirma. Mesmo com as questões éticas, Marize ressalta que os estudos dos laboratórios internacionais obtiveram sucesso na melhora da qualidade da visão de pacientes com DMRI, o que embasa o possível sucesso clínico da pesquisa da professora.

Métodos
O projeto, iniciado em 2021, obtém o tecido dentário por doações de clínicas odontológicas parceiras. “O indivíduo que passa pelo processo de retirada do siso, poderá consentir em nos doar o dente que seria descartado”, afirma Marize. A professora explica que até o momento o projeto não tem nenhuma relação com o Hospital das Clínicas (HC-UFG), mas que almeja cooperação com a Oftalmologia do órgão.

Marize conta que o projeto tem duração de três anos e em seu cronograma prevê a obtenção das células-tronco, caracterização e a demonstração de que elas são células epiteliais pigmentadas da retina. Ao final, será feita uma prova de conceito (modelo utilizado para comprovar a hipótese inicial de uma pesquisa/artigo) em olhos de porco para confirmar que as células atingiram o grau clínico e são seguras para os testes em humanos. “Então o projeto é basicamente pegar uma célula que nunca foi utilizada para essa finalidade, diferenciar e fazer a prova de conceito”, explica Marize.

A professora afirma que a razão do estágio clínico não estar previsto no estudo é o tempo demandado para atingir a fase, por este motivo o projeto se encerra na prova de conceito. “Nós vamos fazer uma prova de conceito para saber se as células que manipulamos em laboratório tem capacidade de diferenciar e atingir grau clínico, que atende todos os graus de segurança para que seja futuramente implantada no paciente”, conta. O projeto foi contemplado pela Chamada MS-SCTIE-DECIT-DGITIS-CGCIS/CNPq nº 26/2020 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico com a quantia de R$ 5,3 milhões.

*A Redação

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