Brasil

Morre Ziraldo, pai do Menino Maluquinho e ícone da literatura infantojuvenil, aos 91 anos

Morreu na tarde deste sábado (6), aos 91 anos, o jornalista, cartunista e escritor Ziraldo Alves Pinto, mais conhecido como Ziraldo.

Criador de personagens famosos, como Menino Maluquinho e Flicts, ele é autor de alguns dos principais clássicos da literatura infanto-juvenil brasileira, vendendo milhões de cópias. A morte foi confirmada pelo Instituto Ziraldo. A causa da morte não foi informada.

A carreira de Ziraldo começa quando ele ingressa na literatura na década de 60 com a revista em quadrinhos Turma do Pererê. Em 1969, ele publica Flicts, seu primeiro livro infantil. O livro “O Menino Maluquinho”, maior sucesso de Ziraldo, foi lançado no dia 24 de outubro de 1980

Qualificações profissionais não faltaram a Ziraldo — cartazista, chargista, cartunista, quadrinista, pintor, desenhista, dramaturgo, caricaturista, escritor, cronista, humorista, jornalista… Mas, para fazer justiça, bastaria dizer: referência das artes gráficas no Brasil. Pai do Menino Maluquinho, o maior sucesso da história da literatura infantil no país. Um dos fundadores do jornal “O Pasquim”, símbolo da resistência cultural às arbitrariedades do regime militar no fim dos anos 1960. E uma das figuras mais ativas da cultura nacional dos últimos 70 anos.

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 24 de outubro de 1932. Começou a desenhar ainda criança, fazendo caricaturas de personalidades como Getúlio Vargas e Adolf Hitler. Com apenas 6 anos, publicou um desenho no jornal “Folha de Minas”. Logo desenvolveu uma fascinação por histórias em quadrinhos como “Flash Gordon” e “O Fantasma”, que iriam inspirá-lo para criar as HQs “Teleco e Tim”, “Capitão Tex” e, em 1960, a “Turma do Pererê”, primeira revista em quadrinhos feita por um só autor — e totalmente em cores — produzida no Brasil. Ziraldo se dizia um filho dos comics americanos.

No Rio de Janeiro, o artista trabalhou inicialmente para agências de publicidade. Retornou a Minas para servir o Exército e, ao voltar ao Rio, foi trabalhar nas revistas “O Cruzeiro” e “A Cigarra”. O golpe militar de 1964 pôs fim à “Turma do Pererê”, com seus animais falantes, índios e fazendeiros (ela foi reeditada, sem tanto sucesso, na década de 1970). Outros personagens de quadrinhos, porém, sairiam da prancheta de Ziraldo para o sucesso: Jeremias, o Bom; a Supermãe e Mineirinho, o Comequieto (este, para a “Revista do Homem”).

Em 1968, Ziraldo era artista com trabalhos publicados nas revistas “Graphis” (referência das artes gráficas, da Suíça), “Penthouse” e “Private Eye”. Em 1969, ano de fundação do “Pasquim”, ganhou prêmio de humor no 32º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas e tornou-se o primeiro latino-americano a ser convidado para fazer o cartaz de Natal da Unicef.

Charges políticas

Um outro lado de Ziraldo era o das charges políticas, que faziam com que os retratados ligassem para sua casa logo de amanhã, elogiando-o ou criticando-o. Algumas das suas últimas foram publicadas em 1982, quando estava no “Jornal do Brasil”. Em 1999, Ziraldo voltou à carga com o humor crítico do “Pasquim” e das charges ao lançar a revista “Bundas”, do lema “Quem mostra a bunda em ‘Caras’ não mostra a cara em ‘Bundas’”. Em 2002, relançou brevemente “O Pasquim”.

Desde 2013, quando foi fundado o Instituto Ziraldo no estúdio do cartunista, a família se esforça para catalogar e preservar sua obra. A pesquisa rendeu inclusive a exposição “Os planetas de Ziraldo”, de 2018, com curadoria da cineasta e cenógrafa Daniela Thomas, sua filha, e uma edição da “Supermãe”, em 2019 com diversas charges inéditas.

Em 2015, Ziraldo (então com 82 anos), Zuenir Ventura e Luis Fernando Verissimo inspiraram as histórias do musical “BarbarIdade”, sobre a velhice, escrito por por Rodrigo Nogueira. Em entrevista ao GLOBO para divulgar o espetáculo, ele fez piada sobre ter dito, em 1980, em entrevista a Ruy Castro para a revista “Playboy”, nunca ter brochado na vida.

— Eu mantenho o mito! Vou desmentir? Só Deus sabe do coração humano. Depois que inventaram remédio para isso, parece que prolongou a vida do velho. Mas se a Pfizer (fabricante do Viagra) tivesse inventado um remédio para a libido, venderia muito mais. Minha experiência mostra que 80% dos meus contemporâneos perderam o tesão. Eu, não. Eu penso em sacanagem até hoje!

Nos últimos anos, Ziraldo vinha sofrendo com problemas de saúde. Em 2013, sofreu um infarto leve em Frankfurt, na Alemanha, e foi submetido a um cateterismo. No ano seguinte, foi internado novamente para exames após passar mal. Em 2018, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que o deixou um mês internado. Na ocasião, um boato sobre sua morte circulou na internet, e foi respondido com bom humor pelo cartunista. Ele postou em seu Instagram uma foto em que aparecia não apenas vivo, como sorridente. “Uma vez Menino Maluquinho sempre Maluquinho. Ziraldo firme e forte!”, escreveu.

Segundo Adriana Lins, sobrinha de Ziraldo, o cartunista morreu em sua casa neste sábado (6), às 14h30.

— Parou de respirar, tranquilo. Descansou — disse Lins. — Já vinha muito fraquinho há meses.

Premiações recebidas por Ziraldo

Graças à importância do seu trabalho para a literatura, Ziraldo foi contemplado com algumas premiações ao longo de sua carreira. Dentre elas, destacam-se:

  • “Nobel” Internacional de Humor: recebido no 32º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas, 1960.
  • Prêmio Merghantealler: principal premiação da imprensa livre da América Latina, recebido em 1960.
  • Prêmio Jabuti de Literatura: o prêmio deu-se por conta do seu livro “O menino maluquinho” e foi recebido em 1980.
  • Medalha de Honra da Universidade Federal de Minas Gerais: recebido em 2016.

*Fonte: WEB

 

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