Moradores denunciam poluição e mau cheiro insuportável em Santo Antônio do Descoberto
A operação da fábrica NutriForte no município da região do Entorno tem gerado intensas queixas da população local, que sofre com os impactos ambientais, sociais e à saúde provocados pela unidade industrial
O Jornal Opção Entorno ouviu moradores e comerciantes da região acerca dos problemas, que incluem o mau cheiro persistente, barulho constante e possíveis danos ambientais relacionados ao descarte de resíduos no córrego próximo.
A fábrica, também conhecida como “fábrica de ossos”, processa resíduos de frigoríficos e açougues para a produção de farinha de carne e ossos, que leva em sua composição sangue e sebo bovino. Embora desempenhe um papel relevante na economia do município, os impactos negativos de suas atividades têm causado graves queixas e afetado a qualidade de vida da comunidade.
O Impacto no cotidiano
Lucas Alves, jardineiro e morador de uma casa localizada nos fundos da fábrica, descreve como o ruído das máquinas e o odor insuportável afetam sua rotina. “O barulho começa cedo, ainda de madrugada, e não para ao longo do dia. Não temos mais sossego em casa”, afirma. Segundo ele, o mau cheiro piora ainda mais nos dias de chuva, quando o vapor transporta o odor, invadindo as residências. “Você não consegue nem tomar café ou almoçar com esse cheiro. É muito difícil viver assim”, desabafa.
Lindaci Maria Barbosa, comerciante que possui uma mercearia próxima à indústria, também relata os prejuízos causados ao seu negócio. “O cheiro é tão forte que parece lixo. Os clientes reclamam, dizem que sentem ânsia de vômito. Isso afeta diretamente o movimento do meu comércio”, conta. Lindaci destaca ainda que o odor persiste mesmo com portas e janelas fechadas, tanto em seu comércio quanto em sua casa.
Ela descreve o impacto da situação: “Fica constrangedor receber alguém aqui. As pessoas não entendem, acham que o cheiro vem da sua casa, e você acaba sentindo vergonha. É muito difícil lidar com isso todos os dias”, frisa.
Prejuízos à saúde
Os relatos também apontam para possíveis problemas de saúde causados pela poluição. Lindaci menciona que seu marido tem apresentado náuseas e mal-estar contínuos, sintomas que ela acredita estarem relacionados aos odores fétidos gerados pela fábrica.
Diogo Alves Ribeiro, outro morador da região, relata que as dores de cabeça se tornaram uma rotina, impactando negativamente a qualidade de vida. “Já não sabemos mais o que fazer, porque a sensação de mal-estar não passa”. Ele também cita que sua mãe vem enfrentando dificuldades para se alimentar. “Minha mãe não consegue comer. Esse fedor tira o apetite e faz mal. Isso tem prejudicado muito a saúde dela”, admite, com preocupação.
O impacto da poluição chega a gerar situações extremas. Diogo lembra de um caso em que um corpo em decomposição foi encontrado na área. “O cheiro da fábrica era tão forte, que ninguém percebeu o odor do corpo, o que atrasou a descoberta. Isso mostra o nível de gravidade do que estamos vivendo aqui”, salienta.
Preocupação ambiental
Além dos impactos no cotidiano, os moradores denunciam problemas ambientais. Lucas Alves diz que “há canos despejando esgoto e resíduos diretamente no córrego, o que está matando os peixes e contaminando a água”. Ele conta que o córrego está cheio de óleo e outros materiais, e as árvores e plantações ao redor já estão morrendo. “Até os pés de mexerica que tínhamos não produzem mais frutos”, revela.
Essa contaminação, segundo os moradores, pode ter consequências devastadoras a longo prazo, comprometendo o solo e a segurança hídrica da região.
Sentimento de abandono
Os moradores também relatam um sentimento de abandono. “Já fizemos denúncias, abaixo-assinados, mas nada foi resolvido. Parece que ninguém nos ouve, e a fábrica continua como está, prejudicando todo mundo”, lamenta Lindaci.
A comunidade sugere que as autoridades utilizem tecnologias como drones, para fiscalizar a área e captar evidências dos danos ambientais causados pela fábrica. “Precisamos de fiscalização de verdade. Não é possível que isso continue assim”, diz Lucas, inconformado.
Nota oficial da NutriForte
Em resposta às denúncias, a NutriForte divulgou uma nota explicativa afirmando estar ciente dos problemas e comprometida com uma solução definitiva. Segundo a empresa, um novo sistema de alta tecnologia foi adquirido para eliminar 100% dos odores emitidos durante o processo produtivo. “Investimos em um equipamento avançado que utiliza métodos de captura, filtragem e neutralização de compostos odoríferos, garantindo que o odor não seja mais liberado no ambiente”, diz o comunicado.
A empresa destacou ainda a importância ambiental de suas operações, as quais evitam, segundo a NutriForte, o descarte inadequado de resíduos de frigoríficos e açougues. No entanto, a comunidade questiona a efetividade dessas declarações, uma vez que o problema persiste há anos.
Pedido por providências
Enquanto a solução da NutriForte não é implementada, os moradores continuam enfrentando um cenário de indignidade e sofrimento. “Nós só queremos viver em paz, sem esse cheiro, sem esse barulho, e sem esse descaso. Será que é pedir muito?”, questiona Lindaci.
O secretário de Meio Ambiente de Santo Antônio do Descoberto, Márcio Parente, por sua vez, ressalta o papel da prefeitura em casos pertinentes à atuação da pasta. “Sempre que há uma denúncia, a gente fiscaliza, e sempre que é preciso tomar alguma medida, nós tomamos”, resume.
A fábrica, inclusive, fez um vídeo com um comunicador do município, dizendo que está providenciando a solução do problema. Os moradores seguem aguardando respostas e ações concretas.